sábado, 22 de setembro de 2007

Deus, infelizmente não conseguiu nos dar o dom da imparcialidade

Por Lauane F. de Melo

Há muito tempo, existe a discussão no jornalismo, sobre a imparcialidade. Embasando-se no artigo de Isabel Travancas, Jornalistas e Antropólogos – Semelhanças e Distinções da Prática Profissional, 2002, iremos analisar este mito. Uma notícia, não pode ser somente um relato, o jornalista precisa citar fontes, e transcrever o que elas dizem. Não é somente colocar um lado da notícia, sempre é necessário ouvir as duas ou mais versões do fato. Até aí nenhuma novidade.
Mas atualmente, este conceito vem caindo, e muito. Será que realmente existe a imparcialidade?
Os antropólogos, neste aspecto, são diferentes dos jornalistas. Os dois são pesquisadores, isso não se há de negar. Mas com uma diferença enorme. O primeiro, quando escreve sobre algo, ele é um dos lados. O segundo, como os próprios manuais de redação enfatizam, precisam ouvir os dois ou mais lados da história.
Um exemplo clássico. Supomos que você é um jornalista. Uma senhora foi atropelada por um homem. Se você é amigo da senhora no outro dia sua manchete será: Motorista, em alta velocidade, atropela senhora. Se você conhece o motorista dirá: Senhora, desesperada se joga na frente de um carro!
Ouvir os dois lados é uma questão muito difícil na profissão, nos dias de hoje. Nem sempre um jornalista consegue publicar uma matéria com todas as versões do fato. Não se assuste, mas o jornalismo também é uma empresa, visa o lucro e tem seus horários a cumprir. É o temido dead line, odiado por todos. Não é fácil fazer quatro matérias por dia e procurar todas as fontes. Acredito que nem o super-herói, flash, conseguiria esta façanha.
A questão é: como fazer um jornalismo de qualidade, com matérias aprofundadas e tendo na reportagem, todos os lados citados na matéria?
Os anunciantes são uma praga nas redações. Primeiro, porque quando o jornalista consegue escrever uma boa matéria, perde centímetros valiosos para a publicidade, afinal, dizem os donos de jornais: antes o texto que o dinheiro! Segunda questão, caso acontecesse um desastre na empresa do melhor anunciante, quando um jornalista poderia fazer uma reportagem: nunca!
Não diria que ser antropólogo é mais fácil, óbvio que não. O seu trabalho, assim como o dos jornalistas, requer muito empenho, dedicação e pesquisa. Eu diria que até mais, por ser um trabalho minucioso, e não ter a necessidade de correr contra o tempo. Mas antropólogos não têm estes empecilhos como os jornalistas. Ele irá publicar os resultados das suas pesquisas, sem mascarar nada. Não precisa ficar neste impasse, de imparcialidade, pois afinal, eles são um dos lados da história. Diferente da outra profissão, que defende a imparcialidade, mas sabe que é um objetivo inalcançável.
Infelizmente, sabemos que no outro dia, jornais servem para “embrulhar peixes”, serem colocados nos assoalhos dos carros e não para serem guardados como fontes de pesquisas, como os artigos e livros de antropologia.
E não pensem que estes fatos só ocorrem em empresas do interior que não é verdade. Temos o próprio exemplo da poderosa Rede Globo, que apoiava o Presidente Collor, nos anos 90. Hoje, é contra o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Revista Veja, não esconde também a sua posição, contra o governo.
É uma utopia jornalística, acreditar na imparcialidade. É uma tese linda. Mas como o próprio jornalista Ancelmo Góis, admite: “Deus não nos deu este dom”.
Texto para a Matéria de Antropologia

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