quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Procura-se emprego



“Quem quer trabalhar come; quem não quer, não come”. Quem não conhece, este trecho da fábula infantil galinha ruiva, onde ela pede ajuda aos outros animais para plantar, colher e debulhar o trigo, mas ninguém quer ajudá-la. Depois de fazer o pão os outros animais quiseram comer, mas em um ato justo, ela comeu sozinha.
No Brasil existem galinhas ruivas e também animais, como os cachorros, porcos, gatos e perus, igual na historinha. Hoje, por exemplo, o número de desempregados em Belo Horizonte está crescendo. São 227 mil pessoas sem emprego na Região Metropolitana da cidade, segundo a Fundação João Pinheiros. Mas por incrível que pareça, o crescimento de 21 mil desempregados não decorre do aumento das taxas de demissões. Deste número, mais de 80%, ou seja, 20 mil trabalhadores, entraram no mercado a maioria mulheres e jovens entre 18 a 24 anos.
Analisando as causas do desemprego, podem ser citados os juros altos, a falta de crescimento econômico, a queda do consumo, a modernização, a mão-de-obra desqualificada. É bom lembrar, nem todos são cachorros, gatos, perus e porcos porque querem.
A economia brasileira vive em altos e baixos. Com o capitalismo e a industrialização, as empresas nacionais concorrem entre si e com as “gringas”, para ganhar o mercado interno. As pequenas e médias perdem espaço para as internacionais, fechando as portas e demitindo as pessoas. A queda do consumo ajuda a alavancar este processo. Quem tem um salário no final do mês, mal consegue comer, quem dirá comprar roupas, calçados, eletrodomésticos, ter lazer, enfim, alimentar o resto do mercado consumidor. Com a modernização, foram extintos alguns cargos no setor industrial. “Nos anos 90, por exemplo, duas montadoras de automóveis em menos de dois anos reduziram pela metade o número de ferramenteiros. Inspetores de qualidade e operários de manutenção são outros exemplos de funções em franca extinção”, explica Adalberto Cardoso, sociólogo do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Existe ainda o aumento do trabalho informal. No começo da década de 90, os informais respondiam por 40% do mercado, hoje metade dos trabalhadores do país não tem carteira assinada.
Outro fator é a mão-de-obra. Os trabalhadores precisam estar bem qualificados para conseguir bons empregos. Há exceções, um em cada 180 milhões conseguem chegar à presidência do Brasil, apenas com a quarta série primária. Não é bom esperar por milagres e sim correr atrás, pois a probabilidade é menos que mínima. Enquanto o nível educacional melhorou, o país parou de crescer. De acordo com os economistas, o Brasil precisa crescer no mínimo 5% ao ano para conseguir empregar a mão-de-obra despejada anualmente no mercado. Mas a faculdade, não significa sucesso garantido. Em São Paulo, há 45 mil desempregados com diploma, situação pior que entre os analfabetos, onde são 24 mil procurando um emprego.
A engenheira civil Laura Bizzo possui mestrado e doutorado em universidade pública, fala inglês e francês e está desempregada. “É triste. Teve consultor que me recomendou tirar o doutorado do currículo”, diz. Este é o chamado desemprego intelectual, que atinge quatro entre dez diplomados. Conforme uma pesquisa do economista Cláudio Dedecca, professor da Unicamp, 37% das pessoas com formação superior exercem atividades profissionais que não exigem curso universitário. Ainda, como aponta a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, outros 3,7% da população com mais de 15 anos de estudo estão desempregados. Dos 87 milhões de brasileiros com idade entre 20 a 59 anos, apenas 6,2% têm ensino superior completo. Segundo o presidente do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, André Urani, “para combater o desemprego, apenas fazer o país voltar a crescer não é o suficiente. É preciso o Brasil pensar em uma nova estratégia de desenvolvimento, um modelo incluindo a multidão descentralizada de pequenos empresários à espera de uma chance”. Quando este dia chegar e o Brasil voltar a crescer a tendência é que as empresas passem a procurar os diplomados. Que isso sirva ao menos de consolo, para os animaizinhos da fazendinha da galinha ruiva.